sexta-feira, 8 de junho de 2012

A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA
Continuação pt5...


   Petrúcio decidira: ela lhe deveria ser de tal modo submissa, que teria de concordar com tudo o que lhe dissesse, antes de conduzi-la até à casa de seu pai. 
   E assim, sendo ele o senhor do Sol e podendo dispor do tempo, garantiu-lhe que era a hora que dizia ser, para que ele consentisse em partir.
   - Pois, - disse, - enquanto você contrariar o que quer que eu diga ou faça, não partiremos. E quando formos, será à hora que eu disser!
   Um outro dia, Catarina foi forçada a demonstrar sua nova maneira de obedecer. Enquanto não conduziu seu ousado ânimo a tão perfeita submissão que não ousasse mais imaginar que existia um vocábulo como oposição, Petrúcio não autorizou que ela fosse visitar a casa de seu pai.
   Mesmo quando já estavam a caminho, era ameaçada de voltar, somente porque ousara afirmar que era o Sol, quando ele havia dito que era a Lua que brilhava ao meio-dia.
   - Em verdade, pelo filho de minha mãe, - disse, - isto é, por mim mesmo, será a Lua, ou as estrelas ou o que quer que eu diga, antes de irmos em direção à casa de seu pai.
   Fez menção então de voltar de novo; mas Catarina, não mais Catarina, a megera, mas Catarina, a esposa obediente, falou:
   - Vamos em frente, rogo-lhe, agora que estamos tão adiantados, e será o Sol, ou a Lua, ou o que você quiser. Se disser que é apenas uma velinha acesa, eu concordarei com você!
 Precisava comprovar essa mudança antes de prosseguir. Assim falou:
   - Eu acho que é a Lua.
   - Eu sei que é a Lua! - repetiu Catarina.
   - Você se engana, - disse Petrúcio, - pois é o Sol bendito!
   - É mesmo o Sol bendito! - concordou Catarina. - Mas não mais será o Sol, se assim você o disser. Não importa o que você nomear, assim o é e sempre o será para Catarina!


   Deste modo, ele concordou que a viagem prosseguisse.
   Para verificar se a mudança era duradoura, dirigiu-se a um velho, - que encontraram no caminho, - como se fosse uma jovem donzela, dizendo-lhe:
   - Como vai, gentil senhorita!
   E perguntou à Catarina se vira antes moça mais linda, elogiando a cor vermelha e alva das bochechas do velhinho e comparando seus olhos a duas estrelas brilhantes. E assim falou novamente com ele, dizendo-lhe:
   - Linda jovenzinha, mais uma vez lhe desejo um bom dia para você!
   Disse para sua esposa:
   - Querida Keite, abrace-a, por causa de sua extraordinária beleza!
   A renovada Catarina imediatamente aceitou o ponto de vista do marido e assim se dirigiu ao velho viandante:
   - Jovem virgem radiante, você é bela, formosa e doce; aonde está indo e onde você mora? Como são felizes os pais de tal beldade!
    - O que há com você, Catarina? - atalhou Petrúcio. - Espero que não tenha enlouquecido. Trata-se de um homem, velho e carcomido, murcho e enfraquecido, e não de uma jovem saudável, como você acaba de dizer!
    No mesmo instante, Catarina consertou:
   - Perdão, ó meu senhor. O sol ofuscou de tal modo meus olhos, que tudo ficou embaçado para mim. Agora estou percebendo que se trata de um venerável senhor. Espero que me perdoe por meu imperdoável engano!

   - Diga-nos, meu caro ancião, qual a direção que está seguindo, - falou Petrúcio. - Ficaremos felizes se estiver indo na mesma direção nossa, pois assim nos fará companhia.
   O ancião replicou:
   - Caro senhor e elegante madame, nosso encontro inesperado muito me alegrou. Meu nome é Vicente. Estou indo visitar meu filho que mora em Pádua.
    Assim souberam que era o pai de Lucrécio, o jovem que iria se casar com a filha mais nova de Batista, a Bianca. Petrúcio alegrou muito a Vicente, dizendo-lhe que o filho dele estava realizando um excelente casamento com tal moça. E todos prosseguiram a viagem alegremente até chegarem à casa de Batista, onde encontraram muita gente reunida para celebrar as núpcias de Bianca e de Lucrécio, uma vez que Batista dera seu consentimento assim que Catarina se despediu de sua casa.
   Logo que chegaram, Batista os convidou para participarem da festa, onde também se encontrava outro casal de nubentes.
   Lucrécio, o marido de Bianca, e Hortênsio, o outro recém-casado, comentaram maliciosamente sobre o difícil temperamento da esposa de Petrúcio, comparando-o com a amabilidade e a doçura das mulheres que haviam desposado; e riram-se da má sorte do outro.




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