sexta-feira, 8 de junho de 2012

A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA
Continuação pt6 (final)...



  Petrúcio pareceu não se importar com seus comentários, até que as mulheres se retiraram, depois do banquete. O próprio Batista aproveitou-se para gozar de Petrúcio ao ouvi-lo dizer que sua esposa era mais obediente do que as deles:
    - Veja então, meu caro filho, eu acho que você é quem ficou com a megera desta história.
   - Vejamos, - disse Petrúcio, - eu afirmo que não. E para que vejam que estou falando a verdade, vamos cada um de nós chamar nossas esposas; aquele que tiver a esposa mais obediente, ganhará um prêmio.
   Os dois outros aceitaram imediatamente o desafio, pois estavam mais do que seguros da docilidade de suas esposas, frente à caturrice de Catarina. E fizeram a aposta de vinte coroas, ao que Petrúcio insinuou que era uma aposta a fazer sobre um falcão ou um cão de caça, nunca sobre uma amada esposa. Lucrécio e Hortênsio ofereceram cem coroas.
   Logo, Lucrécio enviou seu criado para chamar sua esposa, Bianca. Ao voltar, o criado lhe disse:
   - Senhor, minha senhora manda lhe dizer que está muito ocupada agora e que não pode vir imediatamente.
   - Como pôde ela dizer, - disser Petrúcio, - que está muito ocupada e não pode obedecer ao marido? É isso resposta de uma esposa?
   Então todos riram dele e lhe disseram que aguardavam a resposta de Catarina, que seria bem pior.
   Foi então a vez de Hortênsio mandar vir sua esposa. Ordenou ao criado:
   - Vá, e urja para que minha esposa venha imediatamente.
   - Oh! - comentou Petrúcio, - ruja para que venha! Assim não poderá deixar de vir.

   - Receio, - disse Hortênsio, - que sua esposa nem lhe dará ouvidos.
   De fato, esse marido ficou um pouco pálido quando o criado voltou sem a companhia da esposa dele.
   - Senhor, - disse o servente, - minha senhora mandou dizer que está mantendo uma agradável conversa agora e que não pode atendê-lo, no momento. Pediu-lhe que o senhor mesmo fosse encontrá-la.
   - As coisas estão piorando! Chegou agora a minha vez! - disse Petrúcio.
   Enviou seu criado com estas ordens:
   - Intendente, vá até sua senhora e diga-lhe que estou ordenando que venha até mim imediatamente!
   O pessoal nem teve tempo de imaginar que Catarina nunca haveria de aceitar tal ordem, pois ela chegou ali tão depressa que Batista exclamou:
   - Não posso acreditar no que vejo: Catarina já esta aqui diante de nós!
   Ela chegou dizendo com suavidade para Petrúcio:
   - O que deseja de mim, meu senhor, mandando-me chamar agora?
   - Onde estão sua irmã e a mulher de Hortênsio? - perguntou-lhe.
   Catarina respondeu:
   - Estávamos conversando junto à lareira da saleta de visitas.
   - Volte lá, então, e conduza-as até nós.
   Catarina retornou, sem contestar as ordens de seu marido.
   - Realmente é um milagre! - disse Lucrécio. - Se é que existem milagres!
   - E de fato aconteceu, - acrescentou Hortênsio, - prometendo muita coisa!

   - Promete-nos paz, - disse Petrúcio, - e amor e vida calma e autoridade marital: em suma, tudo aquilo que é digno e feliz.

   O pai de Catarina, entusiasmado ao ver a mudança que se operara em sua filha, disse:
   - Agora, seja abençoado, meu filho Petrúcio! Você ganhou a aposta, e vou aumentar o dote dela em vinte mil coroas, como se se tratasse de uma outra filha, pois mudou tanto que parece outra pessoa!


   - Vou lhe mostrar que ganhei a aposta para sempre, dando-lhe ainda outras provas de como agora ela é virtuosa e obediente! - explicou Petrúcio.
   Como Catarina estivesse entrando com as duas outras moças, prosseguiu:
   - Vejam como chegam, sendo conduzidas por ela como prisioneiras de sua persuasão amigável. Catarina, esse chapéu que está usando não lhe vai bem; jogue fora essa porcaria, e pise-o agora!
   Catarina, sem hesitar, arrancou o chapéu da cabeça, e o pisoteou diante deles.
   - Querido! - disse a esposa de Hortênsio. - Eu nunca me lamentei de nada até ver tal rebaixamento.
   E Bianca disse também:
   - O quê? Você chama isso de obediência?
   Ouvindo isto, o marido de Bianca lhe retrucou:
   - Espero que você seja tão obediente quanto ela! Sua relutância, minha querida Bianca, me custou cem coroas, logo depois do banquete!
   - Você está louco, - disse-lhe Bianca, - se espera de mim tal submissão!
   - Catarina! - ordena Petrúcio. - Encarrego-a de ensinar a essas moças a submissão que devem demonstrar a seus maridos!
   Para admiração de todos os presentes, a megera dominada por ele falou tão eloquentemente a favor da submissão feminina e do dever de obedecer, como se sempre tivesse sida a mais submissa das mulheres e a esposa sempre dócil de Petrúcio.
   E assim, mais uma vez, Catarina foi muito falada em Pádua, não como antes, como Catarina a megera, mas como Catarina, a mais obediente e devotada esposa de Pádua: a dócil Keite.




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