sexta-feira, 8 de junho de 2012

A MEGERA DOMADA - Shakespeare

 A MEGERA DOMADA
Continuação pt2...

   O galante Petrúcio foi assim procurar Catarina, a megera. De início, dirigiu-se ao seu pai, Batista, pedindo-lhe consentimento para namorar sua gentil filha Catarina, como Petrúcio a denominou. Dizia astutamente que, tendo ouvido falar de sua modéstia discreta e de seus modos ponderados, viera de Verona para solicitar o amor dela. Seu pai, embora desejando desposá-la, foi obrigado a confessar que Catarina não se encaixava nessa descrição.
   Logo se evidenciou o tipo de gentilezas que ela praticava, pois o professor de música entrou precipitadamente na sala para se queixar de sua gentil aluna, Catarina, tinha quebrado o alaúde em sua cabeça, porque ele tinha ousado apontar as falhas de seu desempenho. Ao ouvir isto, Petrúcio retrucou:
   - Que moça corajosa; amo-a agora mais ainda e anseio poder falar logo com ela.
   E insistiu junto ao pai, para que desse seu consentimento, dizendo:
   - Meus negócios são numerosos, senhor Batista, e não posso vir aqui todos os dias para namorar. O senhor sabe que meu pai faleceu: fiquei como herdeiro de todas as suas terras e bens. Então me diga, se eu ficar com o amor de sua filha, que dote me dará por ela?
   Batista achou suas maneiras muito bruscas para um amante; mas estando feliz de ver Catarina casada, respondeu que lhe daria vinte mil coroas como dote e metade de seus domínios após sua morte. Dessa forma, o singular acordo foi logo acertado. Batista foi comunicar à desgovernada filha as intenções de seu namorado e encaminhou-a a Petrúcio, para ouvir dele o pedido de casamento.
   No entretempo, Petrúcio ficou matutando como haveria de proceder para cortejá-la. Pensou: "Vou abordá-la com cortesia quando chegar. Se ralhar comigo, então lhe direi que tem a voz suave e cantante do rouxinol; se se zangar, lhe direi que ela se assemelha à rosa branca banhada pelo orvalho. Se não disser nenhuma palavra, elogiarei a eloquência de seu linguajar; se disser que a deixe em paz, lhe agradecerei como se me convidasse para ficar com ela a semana toda."

   Nesse momento, a estabanada Catarina entrou e Petrúcio logo se dirigiu a ela com carinho:
   - Bom dia, Keite, pois este é seu nome afetivo, como me disseram. 
   Catarina, não gostando dessa saudação íntima, disse desdenhosamente:
   - Dirigem-se a mim como Catarina, quando querem me dizer algo.
   - Não é verdade, - replicou o amante. - Chamam-na de Keite, querida Keite e algumas vezes de Keite, a megera. Logo, minha Keite, você é a Keite mais bonita da cristandade, e por isso, Keite, ouvindo o elogio de sua mansidão em todas as cidades, estou aqui para solicitar que seja minha esposa.
   Entabularam um diálogo amoroso surpreendente. Ela em gritos e palavrões, demonstrando por que era conhecida como bicho-do-mato, enquanto ele elogiava ainda suas palavras doces e corteses. Até que, por fim, ouvindo os passos do pai dela, disse, pretendendo demonstrar um clima romântico:
   - Doce Catarina, vamos continuar a conversar a sós, pois seu pai consentiu que você se torne minha esposa adorada. Adorei o dote e, quer você queira ou não, vou me casar com você.



   Quando Batista entrou, Petrúcio lhe disse que a filha o tinha recebido carinhosamente e que prometera se casar no próximo domingo. Catarina negou tudo, dizendo que queria é vê-lo enforcado no domingo e criticou seu pai por querer casá-la com tal cafajeste doido, como era esse Petrúcio. Petrúcio intimou Batista a não considerar tais palavras nervosas, pois haviam combinado que ela se mostraria relutante diante dele, mas que quando estavam a sós ela se mostrara muito amorosa e carinhosa.
   Disse-lhe, então:
   - Dê-me sua mão, Keite. Vou até Veneza para encomendar roupas primorosas para nosso casamento. Prepare a festa, papai, e convide os participantes de nossas núpcias. Trarei realmente anéis, atavios, roupas finas para que minha Catarina apareça bem linda. Beije-me, Keite, pois estaremos casando no domingo.


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