sexta-feira, 8 de junho de 2012

A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA
Continuação pt3...

(Petrúcio e Catarina já no casamento)

   No domingo, todos os convidados estavam reunidos. Tiveram de esperar, porém, muito tempo para Petrúcio chegar. Catarina chorava de vergonha pensando que Petrúcio estava apenas gozando dela.  Finalmente, no entanto, apareceu. Não trouxe, porém, nenhuma das roupas que prometera para Catarina. Nem estava ele próprio vestido como um noivo, mas com roupas bem cafonas, como se quisesse brincar com o sério negócio que estava acontecendo. Seu próprio criado e os cavalos que montavam estavam cobertos de arreios tão estranhos e fantásticos.
   Não puderam convencer Petrúcio a mudar de roupa. Disse que Catarina iria se casar com ele, não com suas roupas. E percebendo que era inútil discutir com ele, entraram na igreja, ele ainda vestido daquela maneira horrorosa. Quando o padre perguntou a Petrúcio se aceitava Catarina como esposa, este respondeu o mais alto que pôde, de modo que o padre deixou cair o livro. Quando conseguiu retomá-lo, este noivo desvairado lhe deu tal empurrão que caíram o livro e o padre juntos. E durante toda a cerimônia de casamento agiu e falou de tal modo, que a braba Catarina tremia e soluçava de medo. 


   Depois da cerimônia, quando ainda estavam na igreja, Petrúcio pediu vinho e sorveu um longo gole; jogou o pedaço de pão que estava no fundo da taça na cara do sacristão, dando apenas como justificativa para tal procedimento que a barba do sacristão estava fina e desalinhada, e pediu pão molhado enquanto bebia. Nunca houvera antes tão doido casamento. Petrúcio, no entanto, estava apenas demonstrando selvageria como estratégia para conseguir amansar essa megera mulher.
   Batista tinha preparado uma festa suntuosa. Quando chegaram da igreja, porém, Petrúcio, segurando firmemente Catarina, declarou sua intenção de partir com ela imediatamente para sua casa. E nenhum argumento de seu sogro conseguiu convencê-lo do contrário, nem as palavras raivosas de Catarina. Afirmou  seu direito de esposo de dispor da mulher como desejasse e levou Catarina embora. Parecia tão ousado e determinado, que ninguém teve coragem de se pôr à frente dele.


   Petrúcio colocou a esposa em cima de um pangaré lastimável, magro e sujo, que escolhera para isso. Ele e seu criado não tinham melhores animais.
   Cavalgaram por estradas íngremes e tortuosas, e toda vez que o trôpego pangaré de Catarina tropeçava, ele gritava e batia no pobre animal, - que mal podia se sustentar nas próprias pernas, - como se fosse o mais furioso dos humanos da Terra.
   Finalmente, após uma desgastante viagem, durante a qual Catarina só ouviu murmurações selvagens de Petrúcio contra o criado e os animais, chegaram à casa dele. Petrúcio lhe deu carinhosas boas-vindas ao lar, mas decidiu que ela não comeria nem descansaria naquela noite.
   As mesas estavam postas e o jantar foi servido. Petrúcio, sob pretexto de encontrar defeito em cada um dos pratos preparados, jogou as comidas no chão e ordenou aos criados que levassem tudo embora. E tudo isto o fez, como afirmou, por amor a Catarina, pois ela não podia comer nada que não estivesse em ótima forma. E quando Catarina, cansada e faminta, foi se deitar, ele encontrou os mesmos defeitos na cama, jogando os travesseiros e as roupas de cama por todo o quarto, de modo que ela teve de se contentar com uma cadeira, onde, assim que cochilava, era acordada pelos gritos do marido esbravejando com os criados por terem preparado mal o leito da noiva.








Nenhum comentário:

Postar um comentário