sexta-feira, 8 de junho de 2012

A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA
Continuação pt6 (final)...



  Petrúcio pareceu não se importar com seus comentários, até que as mulheres se retiraram, depois do banquete. O próprio Batista aproveitou-se para gozar de Petrúcio ao ouvi-lo dizer que sua esposa era mais obediente do que as deles:
    - Veja então, meu caro filho, eu acho que você é quem ficou com a megera desta história.
   - Vejamos, - disse Petrúcio, - eu afirmo que não. E para que vejam que estou falando a verdade, vamos cada um de nós chamar nossas esposas; aquele que tiver a esposa mais obediente, ganhará um prêmio.
   Os dois outros aceitaram imediatamente o desafio, pois estavam mais do que seguros da docilidade de suas esposas, frente à caturrice de Catarina. E fizeram a aposta de vinte coroas, ao que Petrúcio insinuou que era uma aposta a fazer sobre um falcão ou um cão de caça, nunca sobre uma amada esposa. Lucrécio e Hortênsio ofereceram cem coroas.
   Logo, Lucrécio enviou seu criado para chamar sua esposa, Bianca. Ao voltar, o criado lhe disse:
   - Senhor, minha senhora manda lhe dizer que está muito ocupada agora e que não pode vir imediatamente.
   - Como pôde ela dizer, - disser Petrúcio, - que está muito ocupada e não pode obedecer ao marido? É isso resposta de uma esposa?
   Então todos riram dele e lhe disseram que aguardavam a resposta de Catarina, que seria bem pior.
   Foi então a vez de Hortênsio mandar vir sua esposa. Ordenou ao criado:
   - Vá, e urja para que minha esposa venha imediatamente.
   - Oh! - comentou Petrúcio, - ruja para que venha! Assim não poderá deixar de vir.

   - Receio, - disse Hortênsio, - que sua esposa nem lhe dará ouvidos.
   De fato, esse marido ficou um pouco pálido quando o criado voltou sem a companhia da esposa dele.
   - Senhor, - disse o servente, - minha senhora mandou dizer que está mantendo uma agradável conversa agora e que não pode atendê-lo, no momento. Pediu-lhe que o senhor mesmo fosse encontrá-la.
   - As coisas estão piorando! Chegou agora a minha vez! - disse Petrúcio.
   Enviou seu criado com estas ordens:
   - Intendente, vá até sua senhora e diga-lhe que estou ordenando que venha até mim imediatamente!
   O pessoal nem teve tempo de imaginar que Catarina nunca haveria de aceitar tal ordem, pois ela chegou ali tão depressa que Batista exclamou:
   - Não posso acreditar no que vejo: Catarina já esta aqui diante de nós!
   Ela chegou dizendo com suavidade para Petrúcio:
   - O que deseja de mim, meu senhor, mandando-me chamar agora?
   - Onde estão sua irmã e a mulher de Hortênsio? - perguntou-lhe.
   Catarina respondeu:
   - Estávamos conversando junto à lareira da saleta de visitas.
   - Volte lá, então, e conduza-as até nós.
   Catarina retornou, sem contestar as ordens de seu marido.
   - Realmente é um milagre! - disse Lucrécio. - Se é que existem milagres!
   - E de fato aconteceu, - acrescentou Hortênsio, - prometendo muita coisa!

   - Promete-nos paz, - disse Petrúcio, - e amor e vida calma e autoridade marital: em suma, tudo aquilo que é digno e feliz.

   O pai de Catarina, entusiasmado ao ver a mudança que se operara em sua filha, disse:
   - Agora, seja abençoado, meu filho Petrúcio! Você ganhou a aposta, e vou aumentar o dote dela em vinte mil coroas, como se se tratasse de uma outra filha, pois mudou tanto que parece outra pessoa!


   - Vou lhe mostrar que ganhei a aposta para sempre, dando-lhe ainda outras provas de como agora ela é virtuosa e obediente! - explicou Petrúcio.
   Como Catarina estivesse entrando com as duas outras moças, prosseguiu:
   - Vejam como chegam, sendo conduzidas por ela como prisioneiras de sua persuasão amigável. Catarina, esse chapéu que está usando não lhe vai bem; jogue fora essa porcaria, e pise-o agora!
   Catarina, sem hesitar, arrancou o chapéu da cabeça, e o pisoteou diante deles.
   - Querido! - disse a esposa de Hortênsio. - Eu nunca me lamentei de nada até ver tal rebaixamento.
   E Bianca disse também:
   - O quê? Você chama isso de obediência?
   Ouvindo isto, o marido de Bianca lhe retrucou:
   - Espero que você seja tão obediente quanto ela! Sua relutância, minha querida Bianca, me custou cem coroas, logo depois do banquete!
   - Você está louco, - disse-lhe Bianca, - se espera de mim tal submissão!
   - Catarina! - ordena Petrúcio. - Encarrego-a de ensinar a essas moças a submissão que devem demonstrar a seus maridos!
   Para admiração de todos os presentes, a megera dominada por ele falou tão eloquentemente a favor da submissão feminina e do dever de obedecer, como se sempre tivesse sida a mais submissa das mulheres e a esposa sempre dócil de Petrúcio.
   E assim, mais uma vez, Catarina foi muito falada em Pádua, não como antes, como Catarina a megera, mas como Catarina, a mais obediente e devotada esposa de Pádua: a dócil Keite.




A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA
Continuação pt5...


   Petrúcio decidira: ela lhe deveria ser de tal modo submissa, que teria de concordar com tudo o que lhe dissesse, antes de conduzi-la até à casa de seu pai. 
   E assim, sendo ele o senhor do Sol e podendo dispor do tempo, garantiu-lhe que era a hora que dizia ser, para que ele consentisse em partir.
   - Pois, - disse, - enquanto você contrariar o que quer que eu diga ou faça, não partiremos. E quando formos, será à hora que eu disser!
   Um outro dia, Catarina foi forçada a demonstrar sua nova maneira de obedecer. Enquanto não conduziu seu ousado ânimo a tão perfeita submissão que não ousasse mais imaginar que existia um vocábulo como oposição, Petrúcio não autorizou que ela fosse visitar a casa de seu pai.
   Mesmo quando já estavam a caminho, era ameaçada de voltar, somente porque ousara afirmar que era o Sol, quando ele havia dito que era a Lua que brilhava ao meio-dia.
   - Em verdade, pelo filho de minha mãe, - disse, - isto é, por mim mesmo, será a Lua, ou as estrelas ou o que quer que eu diga, antes de irmos em direção à casa de seu pai.
   Fez menção então de voltar de novo; mas Catarina, não mais Catarina, a megera, mas Catarina, a esposa obediente, falou:
   - Vamos em frente, rogo-lhe, agora que estamos tão adiantados, e será o Sol, ou a Lua, ou o que você quiser. Se disser que é apenas uma velinha acesa, eu concordarei com você!
 Precisava comprovar essa mudança antes de prosseguir. Assim falou:
   - Eu acho que é a Lua.
   - Eu sei que é a Lua! - repetiu Catarina.
   - Você se engana, - disse Petrúcio, - pois é o Sol bendito!
   - É mesmo o Sol bendito! - concordou Catarina. - Mas não mais será o Sol, se assim você o disser. Não importa o que você nomear, assim o é e sempre o será para Catarina!


   Deste modo, ele concordou que a viagem prosseguisse.
   Para verificar se a mudança era duradoura, dirigiu-se a um velho, - que encontraram no caminho, - como se fosse uma jovem donzela, dizendo-lhe:
   - Como vai, gentil senhorita!
   E perguntou à Catarina se vira antes moça mais linda, elogiando a cor vermelha e alva das bochechas do velhinho e comparando seus olhos a duas estrelas brilhantes. E assim falou novamente com ele, dizendo-lhe:
   - Linda jovenzinha, mais uma vez lhe desejo um bom dia para você!
   Disse para sua esposa:
   - Querida Keite, abrace-a, por causa de sua extraordinária beleza!
   A renovada Catarina imediatamente aceitou o ponto de vista do marido e assim se dirigiu ao velho viandante:
   - Jovem virgem radiante, você é bela, formosa e doce; aonde está indo e onde você mora? Como são felizes os pais de tal beldade!
    - O que há com você, Catarina? - atalhou Petrúcio. - Espero que não tenha enlouquecido. Trata-se de um homem, velho e carcomido, murcho e enfraquecido, e não de uma jovem saudável, como você acaba de dizer!
    No mesmo instante, Catarina consertou:
   - Perdão, ó meu senhor. O sol ofuscou de tal modo meus olhos, que tudo ficou embaçado para mim. Agora estou percebendo que se trata de um venerável senhor. Espero que me perdoe por meu imperdoável engano!

   - Diga-nos, meu caro ancião, qual a direção que está seguindo, - falou Petrúcio. - Ficaremos felizes se estiver indo na mesma direção nossa, pois assim nos fará companhia.
   O ancião replicou:
   - Caro senhor e elegante madame, nosso encontro inesperado muito me alegrou. Meu nome é Vicente. Estou indo visitar meu filho que mora em Pádua.
    Assim souberam que era o pai de Lucrécio, o jovem que iria se casar com a filha mais nova de Batista, a Bianca. Petrúcio alegrou muito a Vicente, dizendo-lhe que o filho dele estava realizando um excelente casamento com tal moça. E todos prosseguiram a viagem alegremente até chegarem à casa de Batista, onde encontraram muita gente reunida para celebrar as núpcias de Bianca e de Lucrécio, uma vez que Batista dera seu consentimento assim que Catarina se despediu de sua casa.
   Logo que chegaram, Batista os convidou para participarem da festa, onde também se encontrava outro casal de nubentes.
   Lucrécio, o marido de Bianca, e Hortênsio, o outro recém-casado, comentaram maliciosamente sobre o difícil temperamento da esposa de Petrúcio, comparando-o com a amabilidade e a doçura das mulheres que haviam desposado; e riram-se da má sorte do outro.




A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA 
Continuação pt4...

   No dia seguinte, Petrúcio prosseguiu da mesma forma. Sempre dizendo palavras bondosas a Catarina, mas quando ela tentou comer algo, ele descobriu defeitos no preparo do que lhe fora servido, jogando o café-da-manhã por terra, como o fizera com o jantar. E Catarina, a altiva Catarina, tinha vontade de suplicar aos criados que lhe trouxessem uma porção de comida secretamente. Mas, instruídos por Petrúcio, replicaram que não ousavam fazer nada que seu senhor não autorizasse.
   - Ah! - disse ela, - terá se casado comigo para me matar de fome? Os mendigos que batem na porta de meu pai merecem melhor tratamento. E eu, que nunca senti falta de nada, estou a ponto de morrer de fome sem nada para comer, extenuada por falta de dormir, acordada aos gritos e nutrida com insultos. O que mais me aborrece é que tudo ele faz sob juras de amor perfeito, estimando que, se eu dormir ou se comer, estarei correndo perigo de morte. 

  Aqui o solilóquio foi interrompido pela entrada de Petrúcio; não demonstrando saber que ela estava morrendo de fome, ele tinha lhe trazido uma pequena porção de alimentos, dizendo-lhe:
   - Como se sente, minha querida Keite? Aqui, amorzinho, você pode perceber como a adoro, pois preparei eu mesmo uma refeição para você. Estou certe de que esta gentileza merece seu reconhecimento. Então, não diz nenhuma palavra? Entendo, não gostou do que lhe preparei e todo o meu esforço foi em vão!
   Mandou que o criado levasse o prato embora. A inanição, tendo abatido o orgulho de Catarina, levou-a suplicar-lhe, embora se mordendo de raiva:
   - Rogo-lhe que ordene ao criado trazer de novo a comida.
   Mas não era isso que Petrúcio pretendia conseguir, e replicou-lhe:
   - Qualquer favor, por menor que seja, merece receber um agradecimento, assim como este que lhe fiz, para que possa ter acesso ao que lhe trouxe!
   Ouvindo isto Catarina sussurrou relutante:
   - Muito obrigada, meu senhor!
   Assim consentiu que ela tomasse essa frugal refeição. Prometeu-lhe então:
   - Que você se sinta confortável, Keite; coma tranquilamente. E agora, meu doce de coco, iremos visitar a casa de seu pai, vestidos com as melhores roupas de seda, e mantas de veludo e anéis de ouro, com chapéus finos e lenços especiais, esnobando elegância.

   Querendo que acreditasse que lhe daria tais presentes, mandou vir a costureira e a modista, e elas lhe trouxeram tecidos especiais para que os examinasse. Entregou ao criado o prato em que ela estava comendo, antes que conseguisse comer nem a metade do que continha, dizendo:
   - Ela já está satisfeita!
   A modista lhe apresentou um chapéu, dizendo-lhe:
   - Aqui está o chapéu que vossa senhorita encomendou.
   Nisso, Petrúcio começou a esbravejar: disse que o chapéu fora moldado sobre um coco e não era maior do que uma noz ou uma avelã, ordenando à modista que o levasse embora e lhe trouxesse um outro bem maior. Catarina replicou-lhe:
   - Eu gostei deste mesmo; está na moda, hoje, usar este modelo.
   - Quando você se tornar completamente gentil, eu deixarei que use um destes, - disse-lhe Petrúcio. - E não agora!
   O pouco de comida que Catarina tinha ingerido foi suficiente para lhe devolver o ânimo denodado, e ela retrucou-lhe:
   - Fique sabendo, senhor, que tenho direito de falar, e vou falar: não sou nenhuma criança, nem uma demente; você vai ter de me ouvir e atender a meus desejos, senão é melhor que fique surdo de uma vez!

   Petrúcio fingiu que não ouvira tão rudes palavras, pois tinha encontrado um jeito melhor de abordagem dessa mulher do que ficar discutindo com ela. Por isso, sua resposta foi a seguinte:
   - Isto mesmo, o que você disse é verdade. O chapéu não vale nada, e você não pode mesmo gostar dele!
  - Quer você queira ou não, - retrucou Catarina, - eu gostei do chapéu. E vou ficar com ele ou com nenhum outro!
  - Você está dizendo que quer experimentar a camisola, - disse-lhe Petrúcio, ainda se fazendo de desentendido.
   A costureira se adiantou e lhe apresentou uma linda camisola que costurara para ela. Petrúcio, que não queria que ela ficasse nem com o chapéu nem com a camisola, achou os maiores defeitos na confecção.
   - Pelo amor de Deus! - disse, - que porcaria é esta aqui? Você chama isto de manga? Parece um canhão, arreganhada em cima e embaixo como um barril.
   A costureira lhe disse:
   - O senhor me pediu que a fizesse e acordo com a moda atual.
   E Catarina confirmou que nunca tinha visto uma tão perfeita.

   Isso foi o bastante para Petrúcio. Orientou o mordomo para que fossem pagas pelo trabalho e que lhes pedisse desculpas pela atrapalhada e pelos maus modos aparentes. Diante de Catarina, levantou a voz fortemente e com gestos furiosos enxotou a costureira e a modista do quarto onde estavam. E voltando-se para Catarina, disse-lhe:
   - Bem, minha Keite, vou levar você até seu pai, com as roupas que está usando agora.
   Mandou preparar os cavalos e garantiu que chegariam à casa de Batista para o almoço, pois ainda eram sete horas da manhã. Acontece que não era tão cedo quando disse isso, mas quase meio-dia. Assim, Catarina arriscou dizer, em tom bem moderado, tendo quase dominado a impetuosidade de suas reações:
   - Ouso lhe dizer, meu senhor, que já passa das doze, e nós lá chegaremos apenas para o jantar.






   

A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA
Continuação pt3...

(Petrúcio e Catarina já no casamento)

   No domingo, todos os convidados estavam reunidos. Tiveram de esperar, porém, muito tempo para Petrúcio chegar. Catarina chorava de vergonha pensando que Petrúcio estava apenas gozando dela.  Finalmente, no entanto, apareceu. Não trouxe, porém, nenhuma das roupas que prometera para Catarina. Nem estava ele próprio vestido como um noivo, mas com roupas bem cafonas, como se quisesse brincar com o sério negócio que estava acontecendo. Seu próprio criado e os cavalos que montavam estavam cobertos de arreios tão estranhos e fantásticos.
   Não puderam convencer Petrúcio a mudar de roupa. Disse que Catarina iria se casar com ele, não com suas roupas. E percebendo que era inútil discutir com ele, entraram na igreja, ele ainda vestido daquela maneira horrorosa. Quando o padre perguntou a Petrúcio se aceitava Catarina como esposa, este respondeu o mais alto que pôde, de modo que o padre deixou cair o livro. Quando conseguiu retomá-lo, este noivo desvairado lhe deu tal empurrão que caíram o livro e o padre juntos. E durante toda a cerimônia de casamento agiu e falou de tal modo, que a braba Catarina tremia e soluçava de medo. 


   Depois da cerimônia, quando ainda estavam na igreja, Petrúcio pediu vinho e sorveu um longo gole; jogou o pedaço de pão que estava no fundo da taça na cara do sacristão, dando apenas como justificativa para tal procedimento que a barba do sacristão estava fina e desalinhada, e pediu pão molhado enquanto bebia. Nunca houvera antes tão doido casamento. Petrúcio, no entanto, estava apenas demonstrando selvageria como estratégia para conseguir amansar essa megera mulher.
   Batista tinha preparado uma festa suntuosa. Quando chegaram da igreja, porém, Petrúcio, segurando firmemente Catarina, declarou sua intenção de partir com ela imediatamente para sua casa. E nenhum argumento de seu sogro conseguiu convencê-lo do contrário, nem as palavras raivosas de Catarina. Afirmou  seu direito de esposo de dispor da mulher como desejasse e levou Catarina embora. Parecia tão ousado e determinado, que ninguém teve coragem de se pôr à frente dele.


   Petrúcio colocou a esposa em cima de um pangaré lastimável, magro e sujo, que escolhera para isso. Ele e seu criado não tinham melhores animais.
   Cavalgaram por estradas íngremes e tortuosas, e toda vez que o trôpego pangaré de Catarina tropeçava, ele gritava e batia no pobre animal, - que mal podia se sustentar nas próprias pernas, - como se fosse o mais furioso dos humanos da Terra.
   Finalmente, após uma desgastante viagem, durante a qual Catarina só ouviu murmurações selvagens de Petrúcio contra o criado e os animais, chegaram à casa dele. Petrúcio lhe deu carinhosas boas-vindas ao lar, mas decidiu que ela não comeria nem descansaria naquela noite.
   As mesas estavam postas e o jantar foi servido. Petrúcio, sob pretexto de encontrar defeito em cada um dos pratos preparados, jogou as comidas no chão e ordenou aos criados que levassem tudo embora. E tudo isto o fez, como afirmou, por amor a Catarina, pois ela não podia comer nada que não estivesse em ótima forma. E quando Catarina, cansada e faminta, foi se deitar, ele encontrou os mesmos defeitos na cama, jogando os travesseiros e as roupas de cama por todo o quarto, de modo que ela teve de se contentar com uma cadeira, onde, assim que cochilava, era acordada pelos gritos do marido esbravejando com os criados por terem preparado mal o leito da noiva.








A MEGERA DOMADA - Shakespeare

 A MEGERA DOMADA
Continuação pt2...

   O galante Petrúcio foi assim procurar Catarina, a megera. De início, dirigiu-se ao seu pai, Batista, pedindo-lhe consentimento para namorar sua gentil filha Catarina, como Petrúcio a denominou. Dizia astutamente que, tendo ouvido falar de sua modéstia discreta e de seus modos ponderados, viera de Verona para solicitar o amor dela. Seu pai, embora desejando desposá-la, foi obrigado a confessar que Catarina não se encaixava nessa descrição.
   Logo se evidenciou o tipo de gentilezas que ela praticava, pois o professor de música entrou precipitadamente na sala para se queixar de sua gentil aluna, Catarina, tinha quebrado o alaúde em sua cabeça, porque ele tinha ousado apontar as falhas de seu desempenho. Ao ouvir isto, Petrúcio retrucou:
   - Que moça corajosa; amo-a agora mais ainda e anseio poder falar logo com ela.
   E insistiu junto ao pai, para que desse seu consentimento, dizendo:
   - Meus negócios são numerosos, senhor Batista, e não posso vir aqui todos os dias para namorar. O senhor sabe que meu pai faleceu: fiquei como herdeiro de todas as suas terras e bens. Então me diga, se eu ficar com o amor de sua filha, que dote me dará por ela?
   Batista achou suas maneiras muito bruscas para um amante; mas estando feliz de ver Catarina casada, respondeu que lhe daria vinte mil coroas como dote e metade de seus domínios após sua morte. Dessa forma, o singular acordo foi logo acertado. Batista foi comunicar à desgovernada filha as intenções de seu namorado e encaminhou-a a Petrúcio, para ouvir dele o pedido de casamento.
   No entretempo, Petrúcio ficou matutando como haveria de proceder para cortejá-la. Pensou: "Vou abordá-la com cortesia quando chegar. Se ralhar comigo, então lhe direi que tem a voz suave e cantante do rouxinol; se se zangar, lhe direi que ela se assemelha à rosa branca banhada pelo orvalho. Se não disser nenhuma palavra, elogiarei a eloquência de seu linguajar; se disser que a deixe em paz, lhe agradecerei como se me convidasse para ficar com ela a semana toda."

   Nesse momento, a estabanada Catarina entrou e Petrúcio logo se dirigiu a ela com carinho:
   - Bom dia, Keite, pois este é seu nome afetivo, como me disseram. 
   Catarina, não gostando dessa saudação íntima, disse desdenhosamente:
   - Dirigem-se a mim como Catarina, quando querem me dizer algo.
   - Não é verdade, - replicou o amante. - Chamam-na de Keite, querida Keite e algumas vezes de Keite, a megera. Logo, minha Keite, você é a Keite mais bonita da cristandade, e por isso, Keite, ouvindo o elogio de sua mansidão em todas as cidades, estou aqui para solicitar que seja minha esposa.
   Entabularam um diálogo amoroso surpreendente. Ela em gritos e palavrões, demonstrando por que era conhecida como bicho-do-mato, enquanto ele elogiava ainda suas palavras doces e corteses. Até que, por fim, ouvindo os passos do pai dela, disse, pretendendo demonstrar um clima romântico:
   - Doce Catarina, vamos continuar a conversar a sós, pois seu pai consentiu que você se torne minha esposa adorada. Adorei o dote e, quer você queira ou não, vou me casar com você.



   Quando Batista entrou, Petrúcio lhe disse que a filha o tinha recebido carinhosamente e que prometera se casar no próximo domingo. Catarina negou tudo, dizendo que queria é vê-lo enforcado no domingo e criticou seu pai por querer casá-la com tal cafajeste doido, como era esse Petrúcio. Petrúcio intimou Batista a não considerar tais palavras nervosas, pois haviam combinado que ela se mostraria relutante diante dele, mas que quando estavam a sós ela se mostrara muito amorosa e carinhosa.
   Disse-lhe, então:
   - Dê-me sua mão, Keite. Vou até Veneza para encomendar roupas primorosas para nosso casamento. Prepare a festa, papai, e convide os participantes de nossas núpcias. Trarei realmente anéis, atavios, roupas finas para que minha Catarina apareça bem linda. Beije-me, Keite, pois estaremos casando no domingo.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

A MEGERA DOMADA - Shakespeare

A MEGERA DOMADA

   Catarina, a filha mais velha de Batista, um rico senhor de Pádua, moça de ânimo tão desatinado e de temperamento tão irritado, rabugenta, gritadeira, era conhecida pelo nome de bicho-do-mato. Parecia muito improvável, até mesmo impossível, que algum cavalheiro se ariscasse a desposá-la. Batista era, por isso, criticado por não aceitar as muitas ofertas excelentes que lhe eram feitas a favor de sua gentil irmã Bianca, descartando todos os pretendentes com a desculpa de que só poderia aceitar o casamento de Bianca quando a irmã mais velha tivesse saído de suas mãos.
(As fotos foram tiradas por mim e com a minha máquina, por isso não estão lá aquelas coisas...)

   Aconteceu, no entanto, que um nobre senhor, chamado Petrúcio, veio a Pádua justamente para arranjar uma esposa. Não se mostrou hesitante diante dos relatos feitos sobre o gênio de Catarina e, sabendo que era rica e formosa, resolveu desposar essa famosa mulher colérica, moldando-a em meiga e cordial esposa. Em verdade, ninguém era tão apto a levar avante esse trabalho hercúleo como Petrúcio, cujo ânimo era tão firme quanto o de Catarina.
   Sendo um fino e bem-humorado gozador e, ao mesmo tempo, tão sábio e de juízo tão sereno, conseguia simular um arrebatamento passional e furioso, mesmo em se mantendo interiormente calmo a ponto de se rir da própria fúria simulada, pois era por natureza descontraído e tranquilo. De modo que as maneiras extravagantes que adotou, quando se tornou o marido de Catarina, eram apenas aparentes, ou para melhor explicar, escolhidas por seu excelente discernimento como a única maneira de enfrentar, da mesma forma, os modos exaltados da furiosa Catarina.




Continua...

Cheguem aqui Amiguinhos!

Galera é o seguinte, tive uma ideia muito louca hoje quando estava lendo Shakespeare. Estou sendo muito rápida e direta porque ainda vou redigir uma historinha (ou deveria dizer "historão") e ter que estudar pras olimpiadas de amanha, pois é. Faz um bom tempo que não dou as caras por aqui e faz uma bom tempo que não compartilho o que quero, na verdade desde o dia em que criei este bendito blog que nao serviu para nenhum fim. Como meu aniversario está proximo, e eu, como toda pessoa normal deseja presente, ja tenho em mente o meu, que é segredo ka, e vou fazer umas mudanças por aqui. Mudanças de verdade, pois ADORARIA DE VERDADE compartilhar umas coisas que venho vendo no meu dia a dia, tanto ruins e boas, historias e hqs, fotos, noticias, filmes, musicas... cara! é mt coisa, só q estou sem tempo pra pensar ka
enfim... Vou redigir rapidao a historia de Shakespeare que estava lendo agora pouco e antes de começar... ALÔÔÔÔÔ!!!!!!!!!!!! PRANETA TERA!!!!!!!!!!!!